sexta-feira, 2 de março de 2018

Os tapetes lá de fora

Quando eu bati os pés no tapete lá de fora, abri a porta e olhei pra dentro de mim. Há muito que não fazia nada parecido. Toda vez que tentava olhar, enxergava o caos. Via o medo, a indecisão, a insegurança, a invalidez, a escuridão. Nunca foi fácil olhar pra dentro e não entender a bagunça que se acumulava. As questões postas nas paredes, os sentimentos jogados pela sala e aquele único feixe de luz aceso tão longe. Tão longe como se não pudesse ser encontrado.
Mas hoje foi diferente, tantas águas rolaram neste meio tempo, tanta chuva caiu do céu, tanto sol secou as ruas, tantas flores nasceram na janela e tantas folhas caíram das árvores. A sensação de olhar pra mim foi inédita. Foi irreconhecível.
O caos, já instalado, não reconheci. Olhei, procurei, estranhei e por um momento até achei que estava enganada. Mas não, ele se foi. Ao invés de todas as negatividades, eu vi força. Conheci a coragem. A felicidade que é ser quem eu quero ser. A paz de olhar pra mim e ver quem eu mais queria, eu.
Os medos e a insegurança fazem parte da arte de viver, eles continuam aqui. A paz é a arte de olhá-los com os olhos da coragem, é pegar um a um e empilhar no canto da sala, sabendo exatamente onde estão. O poder de se manter em ordem, de sentir o gosto de ser quem é, não há preço que pague e caos que abale.
Das coisas que aprendi na vida, levo o ensinamento de que nunca saberei cada detalhe, não sei onde ficam empacotados os meus problemas, eles aparecem e é isso. Não posso controlá-los, mas posso olhar para a situação e decidir para onde quero ir.
A vista de hoje foi a vista que quero levar para o resto da vida. Foi o retrato do que sempre busquei sem saber. Os tapetes da entrada da minha vida estão limpos, as lembranças emolduradas, as questões meio atrapalhadas, mas garantidamente seguras. Na porta de casa, uma plaquinha iluminada indica: bem-vinda a mim, e isso me bastou.

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